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Luta de cães guardiões de gado. Ilustração de 1938 por Azim Azimzade

Luta de cães (em inglês: Dog-baiting; ou Dog fighting), rinha de cães ou briga de cães, é uma luta entre cães especialmente criados ou treinados para tal.[1][2][3][4][5] É um desporto sangrento milenar, hoje ilegal em muitos países do mundo.[3]

É tido como entretenimento e gerador de lucros através de apostas, e, na Ásia central, como forma de testar cães guardiões de gado durante séculos. Os cães guardiões de gado são cães grandes do tipo mastim utilizados para proteger rebanhos de ovelhas contra ursos, lobos e outros predadores, e portanto precisam de coragem, habilidade e experiência para combatê-los, e a luta de cães foi uma forma adotada para testar e mostrar qual era o melhor cão da região, também com fins de seleção reprodutiva.[6] Foi daí também que surgiu o corte de orelhas, uma prática secular ainda vista na sua forma mais primitiva hoje especialmente em raças de cães guardiões de gado do cáucaso, como o kangal e o gampr, que ainda são utilizados para proteger rebanhos e tem nisso uma vantagem anatômica contra predadores,[7] juntamente com o uso de colares especiais de proteção (carlanca para mastins).[8]

Em muitos países, assim como no Brasil, o desporto sangrento das lutas de cães é praticado de forma ilegal.

História

Fighting dogs, Edwin Henry Landseer, 1839, Inglaterra

Há séculos, desde que a criação de cães se tornou sistemática, a transformação dos cães em especialistas numa determinada tarefa sempre foi uma meta a ser atingida. A seleção de cães até meados do século passado sempre teve como propósito o emprego do cão de trabalho nas mais diversas funções, tais como cães pastores, guardas, caçadores dos mais diversos tipos, farejadores e, é claro, os cães de combate.[1]

O uso de cães em desportos sangrentos é identificada pelo menos desde a Roma antiga, onde grandes cães eram postos em lutas contra diversos animais nos anfiteatros.[9]

Uma luta de cães, por Thomas Rowlandson, 1811, Inglaterra

A luta entre cães existe há muitos séculos e foi originalmente popular em países asiáticos, onde primeiramente era realizada como meio de testar cães guardiões de rebanhos que precisavam enfrentar predadores, e posteriormente tornou-se meio de entretenimento.[1]

O Chow chow, Guzui, Alabai e o Bully Kutta, são ótimos exemplos de raças asiáticas seculares que foram muito utilizadas nesta prática em suas origens.

Já na Europa, a luta de cães contra cães só veio alcançar enorme popularidade após o ano de 1835 na Inglaterra quando houve a proibição de desportes sangrentos seculares que envolviam cães com outros animais, como o desporto sangento Bull-baiting (prática que envolvia cães e touros). Com a proibição, criadores de cães (extinto Antigo Bulldog Inglês) utilizados no Bull-baiting, com a dificuldade de realizar secretamente um evento com touros, decidiram pelo combate de cães contra cães, que já existia, porém ainda não era tão popular quanto o Bull-baiting. Esta prática se tornou mais popular por toda a Europa e contribuiu para a criação de novas raças de cães especializadas para esta função. Alguns destes novos cães também foram levados com imigrantes para a América no século XIX, levando consigo também a prática e popularização da luta entre cães para novos países do continente posteriormente.[1]

Raças

Cão da raça americana Pit Bull com cicatrizes de combate. Esta raça foi originalmente criada para a luta de cães, mas hoje pode desempenhar outras atividades lícitas

Muitas raças foram utilizadas na prática de combate entre cães. Hoje, ainda que de forma ilegal, existem raças mais comumente utilizadas, apesar de haverem casos em que indivíduos de temperamento ímpar sem distinção de raça são utilizados. Algumas das raças que foram ou ainda são utilizadas, em ordem alfabética, algumas extintas, são:

Legalidade por região

Leis sobre brigas de cães (criação, organização e atendimento).
  Proibição nacional de brigas de cães
  Algumas proibições subnacionais de brigas de cães
  Brigas de cães legal
  Sem dados

Brasil

No Brasil, a Lei de Crimes Ambientais (9.605/98) proíbe a rinha de cães e outros animais.[10]

A rinha de cães se popularizou ilegalmente no Brasil no final do século XX, tendo em vista que a rinha de galos já era algo muito popular desde muito tempo. É de conhecimento que ainda hoje, mesmo em menor número, cães são ilegalmente colocados para lutar dentro de ringues chamados de pits ou quadrados, simbolizados por um quadrado ou "4x4", com medidas padronizadas, muitas vezes seguindo alguma versão das Cajun rules.[3][11]

Em dezembro de 2019, ocorreu um fato de maior repercussão, onde investigações iniciadas em Curitiba e São José dos Pinhais com um treinador de pit bulls de combate,[12] levaram a Polícia Civil de São Paulo a encontrar uma rinha de cães em Mairiporã onde prendeu 41 pessoas, entre eles:[12] cinco estrangeiros que tiveram os passaportes apreendidos (um americano, dois peruanos e dois mexicanos[13]), um policial militar, um veterinário e um médico de Goiás[14] que, segundo a polícia, reanimava os cães para continuarem a brigar,[15] foram encontrados dezenove cães da raça pit bull, alguns dos quais não resistiram e morreram.[16] A justiça soltou 40 dos 41 presos, somente o organizador ficou preso; um peruano preso na ação teve a prisão transformada em preventiva.[12] Mais tarde, descobriu-se que o peruano mantinha mais de 30 animais em uma chácara em Itu, interior de São Paulo.[15] Os detidos foram autuados pelos crimes de maus tratos a animais, resistência e contravenção penal de aposta em jogo de azar e permaneceram à disposição da Justiça.[13]

Ver também

Ligações externas

Referências

  1. a b c d «A origem dos cães de combate». Site Isto é bizarro. Consultado em 13 de dezembro de 2015 
  2. Armitage, George (29 de março de 2011). Thirty Years with Fighting Dogs (Vintage Dog Books Breed Classic - American Pit Bull Terrier) (em inglês). [S.l.]: Read Books Ltd. ISBN 978-1-4465-4900-1 
  3. a b c «Dog Fighting | Animal Legal & Historical Center». www.animallaw.info. Consultado em 20 de dezembro de 2019 
  4. Semencic, Carl (1984). The World of Fighting Dogs (em inglês). [S.l.]: TFH Publications. ISBN 978-0-87666-566-4 
  5. Semencic, Carl (13 de julho de 2013). Gladiator Dogs (em inglês). [S.l.]: Digital Fabulists. ISBN 978-0-615-85024-5 
  6. Kubyn, Stacey; Grether, Layne (23 de outubro de 2012). Caucasian Mountain Dog (em inglês). [S.l.]: i5 Publishing. ISBN 978-1-62187-065-4 
  7. «Miscellaneous Practices » 18 Interesting Stories of Livestock Guardian Dogs | Rogue Shock». Consultado em 20 de dezembro de 2019 
  8. «International Wildlife: Spain's wolf wars: in a culture of indifference, a young biologist struggles to save a species in crisis - People vs. Predators». web.archive.org. 9 de janeiro de 2005. Consultado em 20 de dezembro de 2019 
  9. Velten, Hannah (15 de agosto de 2013). Beastly London: A History of Animals in the City (em inglês). [S.l.]: Reaktion Books. ISBN 978-1-78023-217-1 
  10. «Lei nº 9.605 de 12 de Fevereiro de 1998». www.planalto.gov.br. Consultado em 20 de dezembro de 2019 
  11. «Cajun Rules for Dogfighting». John Wiley & Sons, Ltd (em inglês). 5 de abril de 2013: 374–375. ISBN 978-1-118-70473-8. doi:10.1002/9781118704738.app32 
  12. a b c Santos, Philipe (17 de dezembro de 2019). «Justiça solta 40 dos 41 presos por participação em rinha de cães em SP». Correio Braziliense. Consultado em 17 de dezembro de 2019 
  13. a b «Polícia Civil prende 41 pessoas por rinha de cachorros em Mairiporã». Portal do Governo. 16 de dezembro de 2019. Consultado em 17 de dezembro de 2019 
  14. Melo, Thauany (17 de dezembro de 2019). «Vereador pede cassação da licença do médico goiano que participava da rinha de cães em SP». Jornal Opção. Consultado em 17 de dezembro de 2019 
  15. a b Dias, Carlos (16 de dezembro de 2019). «Polícia encontra mais de 30 pit bulls em chácara de peruano preso em rinha internacional com cães». G1 Sorocaba e região. Consultado em 17 de dezembro de 2019 
  16. Assunção, Marcelo; et al. (15 de dezembro de 2019). «Polícia Civil estoura 'rinha' de cães em Mairiporã e prende 41 pessoas». São Paulo: G1. Consultado em 17 de dezembro de 2019